terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sobre o vento

Sabe, desde criança, gostava muito do vento, de sentir o vento, tanto que uma das minhas atividades prediletas qdo era adolescente em dia de vento era ir pra varanda da minha casa e ficar em pé deixando o vento me despentear, como se meus cabelos tivessem vida própria. Sentir o vento ressecar o rosto e a pele esticar, isso me fazia me sentir viva, me sentir pertencendo ao mundo, a natureza.
O vento é o ar em movimento, nunca esqueci essa frase da aula de ciências. E achava incrível como ele dava vida a coisas inanimadas, até hoje acho....
Cresci e continuei gostando do vento, mas de formas diferentes, não tinha mais a minha varanda.
Por isso acho que um dos motivos de eu gostar tanto do inverno tb é o vento. O vento gelado, que deixa as bochechas duras, as mãos geladas e me lembra novamente que estou viva e preciso me proteger, que preciso sobreviver.
Então ficamos adultos, temos que batalhar o nosso dia-a-dia, matar um leão por dia e eis que não sentimos mais o vento, ou melhor, esquecemos de percebê-lo, pq ele esta ali. Ele faz que a tal sensação térmica fique pior, ele refresca nos dias abafados e a gente só focado em ganhar mais um dia, vencer mais uma parada. Trabalhamos anestesiados, no automático
Mas o que mais me surpreende no vento são as épocas que depois de muita luta, depois que consigo passar a arrebentação, ele se faz presente novamente, ele se faz sentir.
Depois de épocas conturbadas, ou até sombrias, qdo consigo ver a luz do túnel novamente, chega meu amigo vento me acarinhar, mostrar no meu rosto, sua intensidade, sua temperatura e a minha vida....
E hoje apesar do dia abafado, enquanto levo as crianças para escola, num dia rotineiro, ele vem de novo pela janela do carro me avisar que a época de melancolia acabou, que eu devo sentir ele enrugando meu rosto novamente e acreditando que a vida esta em movimento o tempo todo.