sexta-feira, 13 de junho de 2014

Todas as formas de preconceito



Ontem fomos assistir o jogo do Brasil na casa de amigos, que por coincidência são da escola, claro que lá encontramos outros pais da turma dos meninos.
Só explicando, a escola dos meninos é um pouco diferente, trabalha com construtivismo e muito conteúdo cultural, em artes plásticas, música e literatura.
Ok! Eis que numa rodinha de mães, começamos a conversar assuntos variados e lá pelas tantas uma das mães, que tem uma franquia de escola de inglês, disse que foi divulgar a sua escola no colégio Marista Paranaense e ficou In-dig-na-da com a festa junina deste colégio, pois tinha tocado música sertaneja a festa toda, com letras muito ofensivas e que aquilo não poderia ser do contexto junino.
Claro que a Melissa Da Cara a Tapa já começou a questionar........
- Mas pq vc achou tão ruim assim???
- Ah! Música sertaneja não é pra festa junina. Aliás são muito ofensivas, denigrem a imagem da mulher, tem valores estranhos. Muito me estranha uma instituição comprometida com educação tocar este tipo de música para as pessoas, principalmente para as crianças!!!
- Entendi!!! Mas tem quem goste e muito!!! Acho que não podemos descriminar assim. Nesse exato momento pode ter outra rodinha de mães dizendo que a festa junina do Projeto é uma saco, cheio de bicho grilo, com música nordestina insuportável e um safoneiro irritante que não parava de tocar....
E tem mais, para mim, tudo é MPB, música POPULAR brasileira. 
Eis que uma outra mãe entra no debate.
- Desculpe, mas não considero esse tipo de música MPB. E é um absurdo mesmo tocar essas músicas sertanejas, não tem nada ver com festa junina. Nós como educadores e pais devemos mostrar o que é a verdadeira festa junina para as crianças.
Retomei meu raciocínio.
- Gente é música brasileira, tem quem goste é com certeza os pais dessa escola não acharam ruim. 
Qual a definição de POPULAR??? Vai pelo Brasil afora ver o que toca nas feiras agropecuárias, nas festas populares. Não gosto de sertanejo, mas não posso julgar quem goste, muito menos achar que o cara é menos do que eu.
A mãe educadora volta ao diálogo.
- Mas nosso papel é ensinar as coisas de qualidade, cultura, o Brasil de verdade......
Melissa da a Cara a Tapa truca.
- Gente música sertaneja, forró, quizumba, funk é do mundo!!! Quem sou eu pra dizer o que é bom ou ruim??? Só sei que gosto de umas e desgosto de outras. Não posso ensinar o meu gosto musical pros meus meninos, posso apresentar e deixar eles decidirem. Se eu impor, estou criando um preconceito. Vcs não acham?
Claro que nessa hora muitas gaguejaram e começaram a se justificar que isso não é preconceito, é educação e blá, blá, blá.....
Bom, eu simplesmente parei de emitir minha opinião, pq afinal era a única que pensa que o que é do mundo tem que ser apresentado, digerido e depois decide-se o que fazer com aquilo.
Mas o que realmente me incomoda nessa história toda e já conversei muito com o Fábio a respeito disso é que estudar em uma escola alternativa (odeio essa palavra) tem seu lado bom e ruim.
O lado bom é indiscutivelmente maior que o lado ruim. Mas acredito que muitas pessoas acham que cultura é moeda de riqueza. E a cultura dela! Essa coisa que o erudito é melhor que o popular, que a pessoa que curte um forró de raiz é melhor, mais iluminado do que quem canta alegremente um Michel Teló da vida, me incomoda muito.
Além de tudo felizmente, ou infelizmente, nossas crianças sabem cantar Michel Teló e fazem puta idéia de quem é Chico Buarque ou Mozart. Bom, muitos podem até saber, mas duvido que eles saem por aí assoviando Mozart ou dançando "Cotidiano". Nem por isso elas são menos felizes, inteligentes, etc...
Acho que realmente rola um preconceito dos tais "intelectuais" com o que é realmente popular, digo popular no sentido que consegue agradar classes de A a Z. Um apartheid. Estudei em Universidade. Federal, onde tinha gente do Brasil inteiro e convivi com pessoas de todos os tipos, sociais, raciais e musicais. Curti todos eles, não julgava, observava.
Enfim a minha frase final na rodinha de mães, enquanto elas continuavam a discutir e eu pensava na hipocrisia da primeira mãe, que foi divulgar seu negócio. Sim, pq aquela turma com intelecto inferior por escutar sertanejo de baixo calão tinha muito dinheiro no bolso para se matricular na escola de inglês.
Anyway, minha frase final na rodinha foi:
- Mas é tão simples, se a gente não gosta do que esta tocando a gente vai embora!!!

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